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Welcome to our publication platform! You can browse and search for stories and samples from all our writers. Thanks to our translators, each story is available in Czech, Dutch, Italian, Polish, Portuguese, Romanian, Serbian, Slovene and Spanish. Throughout the years, this platform is becoming a growing archive of European literature by the future generation of literary artists. We're sharing stories beyond barriers.
O Sol quando Cai
I
Na manhã de 11 de julho de 1978, parte em direção a Barcelona um camião com um carregamento de propeno líquido. O camião vem de uma pequena cidade na Catalunha e é conduzido por um motorista que, no meio da sua cara brilhante, usa um grosso bigode. Já trabalha há vinte anos para a mesma empresa, com o mesmo camião, e conhece a rede rodoviária de Espanha de cor. Para evitar portagens, escolhe sempre as estradas interiores.
As botijas de gás não foram feitas para ficar muito tempo ao sol, e uma enorme cisterna com vinte e cinco toneladas de propeno, apesar de só poder conter dezano...
Translated from
NL
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PT
by Xénon Cruz
Written in NL by Joost Oomen
Árvore Monstro Menino Árvore
Ainda não sabemos como Óscar comeu a semente, nem descobrimos de onde a tirou. Temos ainda menos respostas para percebermos como pôde a árvore crescer-lhe por dentro, germinar a semente sem qualquer impedimento, disse o médico, na boca do seu estômago, regada somente pelos sucos biliares do menino. É que aos sete anos, também nos disse o médico, os estômagos funcionam muito bem. O corpo do nosso Óscar — ainda era o nosso Óscar então — permitiu que a árvore crescesse, que as raízes se estendessem pelos intestinos e que o tronco se fosse distendendo esguio, cerimonioso, ao longo do esófag...
Translated from
ES
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PT
by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres
Chiclete Blues
23,40 euros. É esse o montante que figura, em algarismos verde-alface, na registadora do guiché. Umas mãos pálidas e enrugadas colocam cautelosamente, uma por uma, as moedas amarelas e castanhas na gaveta do dinheiro, ao lado de uma nota de vinte euros. Logo a seguir, as mãos fecham a pequena carteira em pele, ao mesmo tempo que uma voz condicente de senhora emite sons apaziguadores.
— Calma, também te vão dar um bilhete — cochicha a senhora ao seu cão, que, tal como ela, permanece fora do alcance do nosso olhar. Quando a gaveta se volta a abrir, as moedas desapareceram e, no lugar del...
Translated from
NL
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PT
by Xénon Cruz
Written in NL by Carmien Michels
O tempo é um circo
De madrugada, sonhou com um crime cometido sob uma amendoeira e quatro bilhetes de lotaria, todos sem prémio. Era domingo.
No sonho, o jovem médico chorou e despertou com as bochechas húmidas, abraçado por uma tristeza púrpura. Come sem apetite, veste-se de luto e espera pelo telefonema que deveria confirmar quem morreu nessa noite.
O seu avô nascera perto do início do século XX num mundo demasiado longínquo para que as pessoas tivessem mantido algumas fotografias dele.
O pai do seu avô tinha falecido trinta anos antes do jovem médico nascer. Ele vinha de um tempo ainda mais antigo, quando os ...
Translated from
RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Andrei Crăciun
Mas a casa ainda mora em mim
Um batismo. Um novo começo. Uma capa preta por cima dos meus ombros, como um manto cerimonial. Ela pega na minha cabeça e inclina-a, cuidadosamente, para trás. A água parece muito mais suave do que a água do meu duche em casa. As suas pontas dos dedos massajam o meu couro cabeludo. A minha cabeça. Esta minha cabeça. Esta cabeça sem a qual não posso viver. Esta cabeça pesada. Esta cabeça que se anuncia. Esta cabeça em que pensamentos. Sempre pensamentos sem aviso prévio. Pensamentos que nunca cessam. Fecho os olhos e tento imaginar que, juntamente com a minha cabeça, ela também massaja o...
Translated from
NL
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PT
by Pedro Viegas
Written in NL by Maud Vanhauwaert
Como pode medir-se o tempo?
Como pode medir-se o tempo? É possível compreender verdadeiramente esta categoria do pensamento e da realidade, que nos escapa continuamente no preciso momento em que procuramos compreendê-la? No nosso mundo, no qual relógios e calendários estão acessíveis em poucos segundos a quem quer que seja, é difícil imaginar o que significaria viver sem saber o momento, a hora, o dia em que se estava. Ainda nos tempos dos nossos avós, apenas os mais ricos e os mais instruídos podiam ler um jornal e ter um relógio de bolso: para aqueles que viviam e trabalhavam no campo, a perceção do passar do tempo era...
Translated from
IT
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PT
by Ana Cristino
Written in IT by Fabio Guidetti
Residence
Apartamento 11
O MENINO
Aquele menino, olhai bem para ele.
Todos os verões, aquele menino tem mais um ano.
Todos os verões, o castanho dos seus cabelos é aclarado pelo sol num vermelho ténue, de reflexos claros. Todos os verões, de manhã, enche os pneus da sua BMX e pedala dentro da Residence, ao longo do muro de pedra atrás do qual se esconde e espia os da sua idade escoicear uma bola no campo de terra batida. Gritam palavrões de todo o tipo. Palavrões que o menino nunca disse.
A Residence é composta por dois pequenos edifícios de três pisos, idênticos. Um o reflexo do outro. A div...
Translated from
IT
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PT
by Ana Cristino
Written in IT by Maurizio Amendola
Os Meninos Escritores
Quase tudo o que aconteceu nesse dia passa-se aqui. Estou com o indicador apontado à cabeça. Muitos anos depois, enquanto levo o meu filho a descobrir o gelo, ainda recordo todos os acontecimentos daquele único dia como «o fuzilamento».
Ninguém morreu. As pessoas eram perigosas, especialmente as crianças pequenas, penduradas nas árvores. Os pés a balançar — e era da língua no meio da boca que viriam os piores crimes.
Ouvir dói, caminhar é um truque. Caminhemos.
Mesmo os pequenos ditadores envelhecem. Os filhos coabitam a terra com os pais, há milhões, talvez milhares de anos. Imagin...
Written in PT by José Gardeazabal
Natalya
Assim que soube que o problema era evasão fiscal liguei ao meu contabilista
ó Zeferino, mas que porra é esta, tu explica-me lá que porra é esta, disseste-me que tinhas tudo sob controlo, para ignorar as cartas das finanças que tratavas de tudo, tu explica-me que porra é esta, e à Misé, a quem há apenas dois dias dera um anel de zircónio muito decente,
temos de devolver a jóia, princesa, depois explico-te
lavei o bucho com dois calmantes e meia garrafa de vodka, estendi-me no sofá e meti o portátil no chão a vomitar folhas de Excel para que, na eventualidade de alguém chegar, a minha i...
Written in PT by Valério Romão
Mesmo Que apenas Uma só Gota Possa Ser Vista
The white cracker who wrote the national anthem knew what he was doing. He set the world “free” to a note so high nobody can reach it. That was deliberate. Angels in America,
Tony Kushner
O meu pai e eu íamos a caminho do aeroporto. Eu ia passar um mês aos Estados Unidos e ele fazia questão de se despedir de mim lá. Ia a Charleston, uma pequena cidade no litoral da Carolina do Sul. O meu pai perguntou-me como é que a cidade era, e eu apercebi-me, nessa altura, de que não tinha ido à procura de quaisquer imagens no Google. A única coisa que sabia é que tinha havido um tiroteio na cave ...
Translated from
NL
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PT
by Pedro Viegas
Written in NL by Rebekka de Wit
Um Anjo
– Xiu, olha, lá vem.
Os homens sustêm o fôlego, imobilizados, contra a arcada. Pela sua frente passa uma mulher com uma capa verde, mala, sapatos e luvas de pele de serpente. Os saltos altos transmitem um som agudo e do seu cabelo preso ao alto caem algumas madeixas. O passeio está cheio de gente que vem das compras, e a mulher sobressai, discordante, com o seu luxo fora do comum. Porém, ninguém lhe assobia, até mesmo algumas pessoas lhe dão passagem ao chegar.
– Lá vem ela agora – murmura o homem mais velho, e os dois furam atrás dela.
Seguem-na a uma distância suficientemente grand...
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RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Anna Kalimar
Ortensio
Ele pensa que o mundo é feito de linhas. Não são paralelas, não lhe importa onde vão encontrar-se. Importa o espaço que as separa, aquilo que o preenche, o que nasce e o que morre no tempo que as contém, imutáveis e imaginárias, na solidão de quem as observa.
É uma linha o horizonte que divide o céu do golfo de Santa Eufémia. Muitas vezes, se o pôr do Sol é límpido, o Stromboli parece mais próximo. Surge como uma pirâmide quase negra, do cume nasce um ténue fumo cinzento que Ortensio distingue a custo. É uma linha, aquela formada pelos seixos que, na margem, antecedem a linha de rebent...
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IT
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PT
by Ana Cristino
Written in IT by Maurizio Amendola
Parêntesis
Suponho que nem o que temos de mais fiável - os sentidos, isto é, o que vemos, ouvimos, aquilo de que nos apercebemos com o corpo - é fiável em situações como a morte de um pai, o nascimento de um filho ou estar prestes a morrer atropelado. Agora, que já enterrámos o papá, e estou por fim sozinho com os meus pensamentos, constato que ontem, no tanatório, tal como há trinta anos atrás, o tempo parou. Por uns segundos, sim. Mas aconteceu outra vez. E soube, imediatamente, que se tratava do mesmo fenómeno que vivi em criança.
Naquela noite também estava com o papá.
Aconteceu...
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ES
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PT
by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres
Perguntem ao Relâmpago
Não era a minha intenção causar um burburinho. Mas de repente assim foi. Falei na escola sobre o acidente de viação e uma coisa levou à outra. Estava pela ponta dos cabelos com os exames, de maneira que nunca conseguia acordar a horas, embora me propusesse sempre na véspera de cada prova a folhear atentamente tudo aquilo que ainda não tinha aprendido. Depois do bipe irritante do despertador da minha mãe, que tinha de estar bem mais cedo no emprego, voltava sempre a cair num sono profundo, tão profundo que mal ouvia o meu próprio alarme. O meu pai vinha-me então tirar do ninho mesmo a te...
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NL
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PT
by Xénon Cruz
Written in NL by Carmien Michels
Comunhão
— Será aqui?
— No papel está esta morada, não te diz alguma coisa?
— Eu lembro-me disto como um descampado. Teria sido mais fácil com o nome do restaurante.
— Deu-to quando te ligou.
— Tem de ser aqui. Há muitos carros — respondi, pondo o sinal intermitente, decidido a estacionar.
— Telefona à tua irmã e tiramos as dúvidas.
— Não o guardei porque pensava que não vínhamos. Nem sequer conheço a criança.
— Tiveram a gentileza de nos convidar. Pode ser uma boa altura para tu… Já sabes…
— Já sei. Já sei — interrompi-a, sem vontade de mais reprimendas. — Que horas são?
Luz tirou o conju...
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ES
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PT
by Matias Gomes
Written in ES by Roberto Osa
Ponto de fuga
Trata-se da história de um homem que não quer perder o caminho para casa. Ele é feito de massa de pão. Parte de casa. À medida que vai caminhando, retira uma migalha de si próprio e deixa-a cair no chão. Começa por retirar um dos braços. De seguida, as orelhas. O nariz. Mais tarde, arranca uma parte da barriga, surgindo um buraco. Na cena seguinte, olhamos através do buraco da barriga do homem. Através do buraco da barriga dá para ver, à distância, uma casa pequena. Atrás da janela, vê-se uma mulher idosa à mesa. A mulher encontra-se a amassar massa de pão. Música comovente. Fim.
Trat...
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NL
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PT
by Pedro Viegas
Written in NL by Maud Vanhauwaert
Portasar Nenhum Instante
Lucas corre tão lesto ali que as novas imagens não chegam a substituir as mais antigas em tempo útil. O vento sopra silenciosa e eficazmente, mínimas fricções. Os pomares estão rodeados pela floresta e nela, através do procedimento do caminhar, Lucas deparou-se com uma tília muito alta, folhas esbranquiçadas por trás, com um enorme buraco na base. Dentro havia areia seca e uma cama onde se pode dormir quando chove e uma taça. Ali nunca lhe faltavam números para adicionar, multiplicar e dividir, finalmente podia recuperar os números originais do resultado e fazer outra coisa com eles como...
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RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Cătălin Pavel
Revolta inversa
A sua vida com Carmen Ottomany começara muito abruptamente nos finais do décimo primeiro ano. No dia em que tinha decidido deixar a cidade, procurou uma fulana alta da turma mais próxima, uma tal Fahrida (o seu pai era do Irão), mas que se apresentava como Frida. Saiu da cidade pois estava convencido de que ao partir os limites ficariam para trás, uma convicção absurda, mas se alguém nunca a tiver será digno de piedade. Foi encontrar a tal Frida entre um grupo de raparigas nas traseiras de um prédio, fumando e rindo. Fumava-se naqueles tempos, mesmo nos liceus dos snobes como era o Sub...
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RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Cătălin Pavel
Os Seres Vivos
Capítulo 1
A mamã morreu sozinha e devagar. A causa da morte, dizem os médicos, foi uma intoxicação. A mamã intoxicada. Grande estupidez. Não discuti com os médicos, limitei-me a assinar os papéis e a tratar do enterro. Se havia algo que a minha mãe conhecia bem era a sua farmácia. Sempre foi exata com as doses. Não se enganava. À menina, por enquanto, contamos-lhe a versão oficial, a da intoxicação. Um dia contar-lhe-ei eu mesma que a avó dela se suicidou.
A menina esteve presente em todos os momentos, depois de lhe dar a notícia levámo-la ao tanatório. Esteve colada às minhas perna...
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ES
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PT
by Matias Gomes
Written in ES by Mariana Torres
O Comunismo Visto por Criancinhas
Tenho quatro anos e nunca subi mais além do primeiro andar. Estou convencido de que a serpente azul do corrimão é infindável, que ela sobe, sobe e sobe, rebenta o teto de alcatrão do nosso prédio e avança invisível até ao céu. É um pensamento que não partilho com ninguém. O meu medo aquece-se na chama deste pensamento.
As pessoas descem dos andares superiores, lá do céu, por vezes falam entre elas em surdina e não oiço o que dizem. Mas nunca há um silêncio combinado entre elas. Nunca há silêncio. Os murmúrios flutuam de uma para outra. São como algumas abelhas ou talvez como algumas mo...
Translated from
RO
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PT
by Simion Doru Cristea
Written in RO by Andrei Crăciun