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Original text "Câteva minute în derivă" written in RO by Cristina Vremes,
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Manuela Zamith

Proofread

Paulo Capinha

Published in edition #2 2019-2023

Alguns minutos à deriva

Translated from RO to PT by Cristina Visan
Written in RO by Cristina Vremes

O dia começou mais cedo do que tinha pensado.

Tinha posto o alarme para tocar às 5.56 por várias razões. Queria ter tempo para a meditação matinal e também, para poder aguardar trinta minutos que o comprimido que melhora as funções da tiroide fizesse efeito antes do café, e depois, começar uma série de exercícios que combinam o queimar das gorduras com a tonificação dos músculos, usando somente o próprio peso, sem esquecer, entretanto, de ligar o esquentador elétrico, porque o aquecimento da água leva umas quatro horas, o que me dá tempo de sobra para acabar também a sequência de ioga para abrir o coração, sem me expor ao perigo de inundar o apartamento porque o termostato do esquentador já não funciona e então a água aquece demasiado, sem ter limites, chegando quase ao ponto de ebulição e desencadeando uma pressão interna que arrisca uma explosão.

A segunda razão: desde que li Inibição, sintoma, angústia, dei-me conta de que tenho um comportamento obsessivo-compulsivo que quero vencer com alguns detalhes do dia a dia, como um alarme ligado não para uma hora exata, mas com alguns minutos à deriva. Depois, a hora 5.56 significa quatro minutos de prolongamento no estado onírico, para que às 6 em ponto possa sair da cama.

Mas as coisas não correram como previsto, porque às 4.35 estava acordada e olhava para o teto. Tentei adormecer novamente, mas sem sucesso. Não me atrevia a olhar para o relógio, esperando que fosse mais tarde, esperando que tivesse aproveitado suficientemente o sono para estar enérgica e produtiva durante o dia. Os primeiros sinais do dia demoravam a aparecer por entre as pregas dos cortinados, mas, e foi aí que me enchi de coragem, levantei-me, e aceitei a insónia, o começo precoce, o cansaço de um sono encurtado.

Digo a mim mesma: não é muito grave. É somente um outro evento que não decorre em conformidade com o plano, tal como outros, nos últimos meses. Mas com este tempo a mais, não sei o que fazer. Não acendo a luz – sinto que ainda não chegou o momento de entrar em contacto com a eletricidade ou com qualquer outro fenómeno físico. Estou sentada à chinês numa almofada, posição em que normalmente medito. Algo me está a impedir de ligar a gravação com a voz do guru, e espero, num sossego profundo, aquela paz antes dos rumores da rua, dos camiões de lixo, das buzinadelas. Sou o primeiro ser humano em vigília, e o resto do mundo está inconsciente.

Sem nenhum esforço voluntário, a imagem de uma figura que se parece comigo aparece num espaço incerto - nem na mente, nem no mundo da matéria, mas num purgatório da visibilidade. A silhueta passa pelo controlo dos passaportes, tira as suas malas do tapete, sobe para o comboio que liga o aeroporto ao centro da cidade, observa as pessoas preocupadas com as faturas no telefone, os mendigos com que se cruzam, os cafés em copos de plástico sem tampa, que transbordam. Está apinhado de gente; é o mundo habitual, afastado da selva, tribos do Laos, pensões de globetrotters, festas tecno na praia, talheres de folhas de banana, o corpo de Jacob, a sensação total de liberdade, quando se cruzam vales e estradas na mota.

O regresso após uma viagem de três meses, para uma normalidade lenta, traz algumas consolações. O Jacob reservou o seu bilhete de avião. As noites na cabana e as manhãs inauguradas com a paisagem fortemente iluminada, que de cada vez parecia inesperadamente extensa, pela janela com o aro em bambu do tamanho das costas de uma cadeira, estas manhãs irrecuperáveis vão-se prolongar nos 25 metros quadrados que tenho no meu estúdio. Vamos ter outras experiências mais ancoradas naquilo que se chama mundo real. O Jacob pergunta-me se vou cozinhar para ele. Hesito em responder, e ao mesmo tempo a chamada de vídeo fica bloqueada. Espero que não tenha reparado nessa ligeira retirada. Pergunto-me como será, prepararmos juntos o caril, na cozinha de um metro quadrado. Como será, comprarmos arroz e concentrado de legumes em pó da Vegeta, ficarmos numa fila sufocante do supermercado com promoções coloridas. Ficarmos juntos ininterruptamente, uma semana inteira, estudarmos tanto os nossos corpos até ficarmos com a impressão de escorregarmos para dentro um do outro.

O jantar da Véspera de Natal comemo-lo juntos à beira da estrada, às escuras, porque a eletricidade é fraca naquela comunidade do norte da Tailândia. Comemos pad thai com camarão, diretamente do saco, apoiados num parapeito em pedra, no chão de terra poeirento. No dia seguinte, regressava para um Berlim friorento e húmido. Acordou-me de manhã e abraçou-me com força, com um olhar sereno e confiante, enquanto eu choramingava, aninhada nos seus braços. O Jacob juntou rapidamente os seus pertences, sem se perder na desordem da penumbra, por entre escovas de dentes e bonés, recibos e botas. Num instante, prendeu a mochila à volta do corpo, ouviu-se a fivela de plástico, cujo eco ainda se manteve na cabana que deixou para trás, fechando a porta a sorrir.

O comboio chegou à Gare do Norte. As pessoas amontoam-se na escada rolante, e o mar caótico de almas organiza-se numa única fila ascendente. O cheiro a ratos do metro de Paris volta, parece que nunca desapareceu nos três meses de viagem. A infelicidade de uma cidade áspera, com recursos hiper-explorados, com migalhas de plenitude, reinstala-se naturalmente, tal como os empurrões, os nervos vividos em comum, o sentimento de desespero urbano. Em Paris, a vida foi arquivada numa memória cultural, a natureza existe na mente, nas pinturas. A vida é vivida não pelo próprio corpo, mas pela ideia de uma mesa com ameijoas e champanhe, a ideia de umas sandálias bege com adornos, sem as quais as calças brancas evasé não fazem sentido.

O corpo, o prazer, as sensações, os sentimentos não têm lógica sem os acessórios externos, afastados pela liberdade de uma paisagem com céu e terra. Em Paris, até o céu parece pintado.

A chegada de Jacob para breve vai trazer consigo a abóbada em estado natural, tal como a descobri há uns meses atrás. A sua visita coincide com o salão do desenho erótico, onde fui aceite. Finalmente, o sentimento de sequestro criativo começa a diluir-se. O desenho que apresento chama-se We don’t talk about it anymore e mostra uma rapariga nua, com a t-shirt pintada, um desenho reprovado pela maioria dos salões. Voltar a viver na vida real não é assim tão desolador, até pelo contrário, arrisca-se a tornar-se em breve demasiado complexo, com uma sucessão de acontecimentos ricos, suculentos, e tenho pouco tempo ao dispor. A primeira exibição, o Jacob, a primavera adiantada, a estadia na Suíça algumas semanas depois, vão-me deixar um curto período de adaptação.

Evito deixar a vida a correr demasiado rápido, sem poder fazer uma síntese de vez em quando. Doutra forma, o fluxo dos eventos é atordoante e arrisco uma forma de autismo.

*

Todos os planos caem, um por um. Todo o mundo se apaga. Os salões públicos fecham, os aviões raramente voam e as companhias aéreas entram em falência; o regressar ao mundo real, que esperava no comboio do aeroporto, está virado do avesso. Um vírus cujo nome acaba em vid migra de leste a oeste e marca presença concretamente numa praia do Camboja, onde vejo os primeiros viajantes e empregados de mesa com as caras cobertas por uma máscara descartável. Agora, o perigo de contaminação é omnipresente, e há lugares onde os cadáveres, vítimas de atrofia pulmonar, não têm lugar na cova, sendo guardados em arcas congeladoras enormes, a monte. As ruas estão imobilizadas, o motor de automóvel já não se ouve, sair de casa é determinado por um protocolo rígido, para combater a propagação da epidemia. O efeito sobre a cidade é fantástico, embora a causa seja catastrófica. No tecido urbano espalha-se uma rara paz, um tempo de retirada e reflexão. À luz do sol escasso de março, depois abril, maio, as mães jogam futebol com os seus filhos, os velhotes respiram ar puro nos bancos públicos, uma humanidade melancólica sai à superfície. O passeio diurno dura somente uma hora, e saboreio-o com intensidade. Redescubro a cidade para além da agitação do dia a dia que habitualmente o esconde.

Mas em troca, a existência entre as quatro paredes que limita alguns metros quadrados, em que os dias se podem repetir sem configurações distintas, pode ser devastadora. Decido programar o quotidiano à risca. Aceito que o Jacob não possa vir, que o meu desenho não vá ter uma primeira visibilidade, que a estadia na Suíça esteja comprometida, que se vá seguir um período longo de silêncio e um futuro em que tenha de recomeçar.

As manhãs começam cedo, antes do nascer do sol. Sigo um impulso de momento, de fazer o silêncio imposto, um silêncio deliberado, aprofundado, fecho os olhos, sentada em posição de meditação, levanto as palmas das mãos em direção ao céu, e deixo um negro completo a invadir a mente. Daqui, passo para uma fórmula de meditação guiada. Da limpeza da mente passo à limpeza do corpo, que submeto a um rigoroso programa de exercício cardio, bodyweight e ioga, durante aproximadamente três horas, intervalo em que tenho consciência de cada músculo, sensação, esforço, penetrando cantos até então desconhecidos. Estou ciente do coração, dos ombros, das pontas dos dedos, das rótulas dos joelhos, da respiração pelo nariz, do centro do estômago. Depois da limpeza passo à reconstrução do intelecto e à análise das origens, a partir da descoberta da democracia na Grécia Antiga, passando pela Revolução Francesa e a história do cânone literário do ocidente, a consciência do eu de Hamlet e as estratégias militares da Segunda Guerra Mundial, até às condições estranhas em que fui trazida ao mundo, há mais de trinta anos atrás.

No aniversário do Jacob, passámos algumas horas juntos, nus, ao telefone. Quatro dias mais tarde, é o meu aniversário. Acordo com o pensamento de passar esse dia o mais normal possível, sem fugir do horário rigoroso. Se deixar alguns segundos de hesitação, sem rigorosa coordenação, tenho medo de uma catástrofe, um longo, negro e viscoso episódio, em que não me vou poder levantar da cama, porque não tenho nenhuma razão para o fazer. E é isso mesmo que acontece. O ecrã acende de manhã, com mensagens de desconhecidos que sabem que é o meu aniversário, porque o virtual os avisou. Depois do almoço pergunto-me se o Jacob prepara uma chamada especial, que pressupõe preparativos, e é por isso que não recebi nenhum sinal. Passo o resto do dia com o telefone na mão e com um estado crescente de suscetibilidade. O ecrã não coopera, e massacra-me com agradecimentos em piloto automático, demasiadas vezes, sem nenhum real sentimento de reconhecimento. Quatro horas, oito horas, passa da meia-noite e adormeço com um sentimento amargo, sem sequer ter saído de casa, sem sequer ter comemorado com um copo de vinho, sem encontrar uma pessoa real, sem um raio de sol, inquieta pela iminência de um vazio ainda maior, entre as quatro paredes brancas.

No dia seguinte, à luz incipiente da manhã, observo que o caule do único ser que me consola, uma planta yucca que se chama Gigi, está partido. Os sinais sinistros continuam. A estátua Ganesh tem uma orelha partida, e a chávena preferida de café escorrega-me por entre dedos. As poucas coisas a que me posso agarrar, no primeiro dia deste novo ciclo, caem, e sinto que já não há nada a fazer, regresso ao conforto do edredão e retiro-me numa semi-consciência que se prolonga sem tempo.

Passaram semanas desde esse episódio, período em que colei a orelha da estátua com super cola e o caule de Gigi com Urgo, canela em pó e um palito. Há coisas que me espelham. A sua reconstrução é a minha reconstrução. O programa diário torna-se ainda mais rigoroso, a pandemia continua, e eu agarro-me aos alarmes e aos exercícios cardio para subsistir, até esta manhã, quando acordo não às 5.56, como estava previsto, mas por volta das 4. Quero esgotar-me fisicamente. Ligo um curso de treino intervalado de grande intensidade. Quero não pensar mais, reduzir a atividade cerebral a puro suor, a puro corpo.

No final, durante o relaxamento dos músculos, a instrutora diz, entre outras, que o único estado permanente é o de mudança.

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