Reading platform
Welcome to our publication platform! You can browse and search for stories and samples from all our writers. Thanks to our translators, each story is available in Czech, Dutch, Italian, Polish, Portuguese, Romanian, Serbian, Slovene and Spanish. Throughout the years, this platform is becoming a growing archive of European literature by the future generation of literary artists. We're sharing stories beyond barriers.
Empalhar um corpo
Debaixo da nossa pele há mundos inteiros. Se é que se pode confiar nas ilustrações. Às vezes não tenho a certeza. Agarro na minha clavícula. Fica toda espetada para fora quando encolho os ombros. Faço isso muitas vezes. A clavícula é um ossinho sólido mas fino. Podia parti-lo. Talvez não com as mãos nuas, mas se lhe desse uma pancada com um objeto pesado, com aquela estátua de pedra maciça, por exemplo... Aí era de certeza. Não é preciso muito para acabar com tudo. Basta engasgarmo-nos uma vez e já está. Para onde é que vão os bocados de comida que entram no canal errado? Além das amígdalas pe...
Translated from
NL
to
PT
by Lut Caenen
Written in NL by Nikki Dekker
Expedição do fogo de artifício
Eis uma passagem do primeiro capítulo "Reunindo forças para a fuga", da novela-reportagem “Expedição ao fogo de artifício”, ou “A respeito da União Europeia e dos jovens”, a qual será publicada ainda este ano pela Editora Petr Štengl.
(...) Por falta de experiência, entrei no clube logo após a abertura, quando a malta estava ainda apenas ganhando ânimo nos bares vizinhos. Até agora, só os efeitos de luz deambulavam pelo chão deserto, e o techno-set introdutório do DJ lembrava mais os mantras de um monge budista do que qualquer coisa satânica. Pelo reflexo húmido do chão, era óbvio que meia ho...
Translated from
CZ
to
PT
by Stepanka Lichtblau
Written in CZ by Ondrej Macl
Diário de uma Portuguesa em Angola
Prólogo
Durante anos a fio fui bombardeada com histórias acerca de Angola. Histórias extremistas de quem se apaixona ao primeiro segundo e se sente em casa neste país, ou de quem odeia e não se consegue adaptar. Histórias mirabolantes daquelas que parecem ser de ficção, porque há uma parte de nós que não acredita que possam ser verdade. Pensei sempre que exageravam bastante e, tal como o provérbio popular indicado para esta situação é de que quem conta um conto acrescenta um ponto, neste caso, acrescentavam vários.
Durante anos andei indecisa sobre conhecer ou não este país tão místico. Hav...
Written in PT by Patrícia Patriarca
Alguns meses mais tarde
12 de agosto
«Mohamad, daqui a meia hora, esteja perto do telefone. Acho que a encontrei!»
Salto da cama num empurrão, visto-me abstraído o mais rápido possível e saio da pensão. Rápido. Como se fosse diferente chegar a casa cinco minutos mais cedo ou mais tarde. Quase corro, descendo a ladeira na direção do porto, ali entre o bairro judeu de Hardara Carmel e o outrora palestiniano de Wadi Salib. Porém, ouço a serra que provavelmente corta o ferro e as galinhas e os galos. Incrível. O cheiro a fazenda no meio da cidade que quer apagar a sua história e ser moderna. Como se regressasse ao ano...
Translated from
SL
to
PT
by Barbara Jursic
Written in SL by Andraž Rožman
Todos os bichos do campo
Como era habitual, naquela manhã acordou com fome. Os grasnidos dos patos que sobrevoavam o telhado ressoaram nas paredes do dormitório e a miúda sentou-se na cama. Os patos tinham chegado a casa da sua avó vindos de longe, talvez de outro continente, agitando as suas asas. De um dia para o outro, tinha deixado de ir à escola e mandaram-na para ali, com a sua avó, que vivia junto a um lago, a quilómetros da aldeia mais próxima. Ela não interessava a ninguém. Os seus pais procuravam intimidade, ou estavam a trabalhar, lá na cidade, não sabia bem. Aquilo de que não duvidava era dos tremores do s...
Translated from
ES
to
PT
by Miguel Martins
Written in ES by Adriana Murad Konings
Os Pandas de Ueno
Desde que as crianças nasceram, ou talvez desde que eu me inscrevera nas redes sociais, ou ainda desde que o trabalho me obrigava a comunicar de forma clara e atrevida, a fazer no fundo referência a coisas conhecidas, em vez de as inventar, dividia o meu tempo em tempo verdadeiro, ou seja, aquele que podia relatar a mim mesma na minha língua verdadeira, e tempo falso, ou aquele em que tinha de falar por categorias, segundo códigos ou por emulação de atitudes.
Lia nos romances acerca de homens tenazes e voluntariosos que se levantavam às quatro da manhã, tomavam duches frios, e às seis já esta...
Translated from
IT
to
PT
by Vasco Gato
Written in IT by Arianna Giorgia Bonazzi
Sinopse
A história que comecei a escrever tanto poderá tornar-se parte de uma antologia de contos breves – centrados em diferentes personagens ligadas entre si – como um fragmento de um romance young adult.
Estamos no futuro próximo e, dentro de um chat de pais apreensivos, sucedem-se alarmismos e escândalos, fluindo em catadupa numa comunidade restrita, aparentemente atenta e justa, embora na verdade lívida de invejas e individualismos. Emerge com força – ao desenrolarem-se disputas, mentiras, poses e afirmações de pequenos poderes mesquinhos – a total incompreensão da vida emocional dos filhos por ...
Translated from
IT
to
PT
by Vasco Gato
Written in IT by Arianna Giorgia Bonazzi
Very Important Person
Mais uma vez, passei o dia inteiro a olhar fixamente para os números luminosos por cima do elevador: 8… 7… 6… 5… 4… 3… 2… 1… “Bom dia, senhor Seljak.” Cumprimento-o sempre, uma vez que sou um profissional. Responde-me com silêncio, ele também o é. Quando tenho sorte, um vinco resplandece no seu rosto de pedra. Se tem um bom dia, levanta a sobrancelha direita, como se me quisesse dizer: “Eu sei quem és tu, mas os meus pensamentos são de diretor.”
Quantas vezes disse a mim mesmo que ia deixá-lo em paz. Que não iria fazer caso dele, como ele não faz caso de mim. Mas a minha mãe ensinou-me a ser...
Translated from
SL
to
PT
by Barbara Jursic
Written in SL by Andraž Rožman
Calcário
Ora, está visto que leva muito tempo para uma cabeça de chuveiro ficar entupida com calcário. Agora que me balanço aqui, com o tubo do chuveiro enrolado à volta do pescoço, meio pendurado no corredor, meio pendurado por cima das escadas, penso: se todos os meus amigos tivessem visto a casa de banho, tinham percebido logo. Se todos tivessem subido uma única vez ao andar de cima, como fez a Ema naquela tarde, teriam olhado para a cabeça de chuveiro, teriam aberto e fechado a torneira, teriam visto a divisória de vidro calcificada do duche, teriam reparado nos pelos da barba feita à pressa no lav...
Translated from
NL
to
PT
by Lut Caenen
Written in NL by Lisa Weeda
O final feliz
Foi a chuva que me acordou. Meteu-se no meu sonho e no início eu não sabia de que mundo vinha. Eu a nadar na infinidade do Pacífico. Sei que era o Pacífico, conheço bem o Oceano Pacífico da televisão. Eu a nadar no turquesa e no cristal. É assim mesmo que dizem nas reportagens, turquesa e cristal. Na anca levava umas fitas que apertavam o fato de banho com umas continhas coloridas penduradas. Recordo-me dele das fotos, o meu primeiro fato de banho, ainda de menina. Enquanto eu fazia o nó, o céu abriu e deixou cair uma cortina de água. As gotas pesadas caíam na minha cabeça e nos meus bra...
Translated from
SR
to
PT
by Ilija Stevanovski
Written in SR by Jasna Dimitrijević
Jericó
Parte I – A Quinta
[...]
I
[...]
A quinta, como lhe chamavam, erguia-se solitária num planalto no cimo de uma colina baixa. Era uma casa rural com dois pisos, uma construção de madeira, retangular, estreita e comprida.
Do janelão do piso superior, sentado na cadeira de balouço, no corredor, Jens observava o campo que se estendia para lá do rio. Os seus pequenos olhos pretos não paravam de se mexer, explorando o horizonte envolto na escuridão, atentos a qualquer pormenor suspeito. Elia e Natan estavam sentados no chão, ao seu lado, a brincar com carros em miniatura enferrujados.
Ouvia-se ...
Translated from
IT
to
PT
by Vasco Gato
Written in IT by Fabrizio Allione
Mudança
— Apanhe o elevador, eu vou a correr pelas escadas — grita o jovem médico descendo rapidamente escada abaixo, saltando vários degraus de uma vez. Não conseguir não é uma opção.
Algumas semanas atrás, ainda no puerpério, a mãe relatou ao pediatra: o bebé não para de chorar. Na primeira consulta ouviu: amamente-o bem e vai acalmar-se. Na segunda clínica ouve: são cólicas, deixe de comer fritos, a qualidade do leite vai melhorar e o bebé vai deixar de chorar tanto.
No gabinete privado, o médico pôs-se a rir:
— Porque não haveria de chorar? É um bebé.
Os pediatras estavam calmos, mas o choro d...
Translated from
PL
to
PT
by Katarzyna Ulma Lechner
Written in PL by Joanna Gierak Onoszko
A Tapioca
Foi o ronco do motor da carrinha da associação que anunciou que era hora de almoço naquele dia em que o sol de tanto queimar não se via. O velho estava debaixo da figueira, envergando uma camisa muito suja toda desabotoada, com um riso irónico na boca fechada para segurar o cigarro. Ficou a ver a brasileira - duas grandes manchas de água debaixo dos braços e as costas da farda igualmente ensopadas - sair do veículo; ir buscar as marmitas e dirigir-se para o anexo que funcionava como cozinha onde era hábito ele estar.
— Tio João! Tio João!
O riso a contrair todas as rugas do rosto, abrindo re...
Written in PT by Daniela Costa
Em casa
O moinho, o caminho para o rio, o poço, os cavalos, as vacas e o trigo. Os baldes rachados cheios de tomates vermelho vivos, os boiões com as tampas bem apertadas cheios de legumes em pickles para o inverno. O estreito rio Severski Don, que alinha os campos todos, que empurra a Rússia contra a Ucrânia, que mantém o mapa unido, da mesma maneira que o meu bisavô Nikolaj cose os casacos com agulha e linha. O vento nas velas do moinho, as meninas do komsomol na praça central da aldeia. Dançam. De braço dado mantêm-se em equilíbrio inclinando o corpo para o lado e elevam-se do chão exatamente com a...
Translated from
NL
to
PT
by Lut Caenen
Written in NL by Lisa Weeda
Dicionário do Recluso
O Dicionário do Recluso encerra as vozes e as histórias de homens que se encontram detidos na cadeia de Turim, Estabelecimento Prisional Lorusso e Cutugno, Ala V do Pavilhão C, destinada aos “presos protegidos”. Nasce de um laboratório de escrita realizado no interior da prisão durante dois anos.
Todos nós sabemos o que querem dizer “casa”, “inverno”, “amor”, e o seu significado é absoluto. Mas na cadeia o significado das palavras muda, e essa mudança nasce do espaço: lá dentro só existe o dentro, e as palavras tornam-se pré-históricas. Quer isto dizer que é como se estivessem paradas num tem...
Translated from
IT
to
PT
by Vasco Gato
Written in IT by Sara Micello
Trilogia do sexo errante
Diante do portão da tia Nicoleta havia muita gente vinda para acompanhar o tio Titi no seu último caminho, o tio Titi que, embora gostasse da pinga, era gente boa, alegre, grande azar para a sua mulher, gente nova, nunca se sabe o que Deus traz, mas a sua mulher cuidou dele, todos os dias lhe punha uma compressa fria na testa, e até o levou a todos os médicos, e olhe que até neste momento, o faz com muito esplendor, vide o caixão de que madeira boa, bordo parece-me, e como trouxe mulheres para cozinhar durante três dias para o banquete de despedida, e foi sozinha ter com o padre Cristea e bate...
Translated from
RO
to
PT
by Cristina Visan
Written in RO by Cristina Vremes